MATÉRIA DO PELÉ.NET DESTACA CRESCIMENTO DO QUADRO SOCIAL DO INTER
Data: 29/06/2006
Confira na íntegra a matéria publicada no site Péle.Net (http://www.pelenet.com.br/) nesta quinta-feira (29/06):
Inter quer ser o Barcelona brasileiro
Clube projeta marca de 40 mil sócios na virada do mês e pode se tornar auto-sustentável com as mensalidades.
Milton Junior, do Pelé.Net
A partida entre Inter e LDU, pela Libertadores da América, marcada para o dia 19 de julho, apesar de mobilizar a atenção pelo menos metade da população do Rio Grande do Sul, poderá ter um número muito pequeno de ingressos à disposição dos torcedores. Com 31,5 mil associados em dia no momento, e uma surpreendente média semanal de 250 novas adesões, o clube projeta alcançar logo a marca de 40 mil no início de julho.
Como o Beira-Rio comporta, atualmente, pouco mais de 50 mil torcedores e a cada partida é necessário fazer uma reserva para 4 mil menores, a decisão da vaga à semifinal da Libertadores poderá ter apenas 5 mil ingressos à venda.
Os números e o crescente interesse dos colorados em integrar o quadro social entusiasma o diretor de Administração do Inter, Giovanni Luigi, que sonha, para o futuro, com um estádio lotado apenas por associados, como ocorre nos jogos do Barcelona, da Espanha.
"Depois do dia 5 julho, quando o banco fechar o recebimento das mensalidades, talvez já tenhamos atingido os 40 mil sócios. Se chegarmos a esses números, o clube vai se tornar praticamente auto-suficiente e não precisará mais vender jogadores para cumprir seus compromissos financeiros", vibra o dirigente.
Os dados colocam o Sport Club Internacional como um dos clubes com maior número de sócios em dia no Brasil, talvez o líder entre todos. O Grêmio, maior rival, por exemplo, tem 10 mil a menos; o Atlético-PR, considerado um exemplo de organização e cuidados com seus associados, tem 3 mil; e na Serra gaúcha, o clube mais popular, o Juventude, totaliza 12 mil. Mesmo assim, manter a linha de crescimento constante é a meta do Colorado.
"Como nossos sócios não pagam ingressos, que bom que tenhamos esse 'problema' de chegar aos 50 mil e lotar o Beira-Rio. Se isso ocorrer, poderemos criar uma reserva de lugares ou utilizar a média de lotação para vender ingressos aos demais torcedores", revela Luigi.
O diretor informa que existe uma parcela de colorados, residentes pelo Brasil, no Exterior e interior do Rio Grande do Sul, que mantêm as mensalidades em dia. E também há aqueles que não comparecem em um ou outro jogo por compromisso profissional.
Há cerca de seis anos, um grupo de conselheiros do Inter, integrado pelas principais lideranças da atual diretoria, elaborou um planejamento estratégico caso assumisse a presidência do clube. Entre elas, revela Luigi, estava a meta dos 30 mil sócios para dezembro de 2006. Bem antes disso a projeção foi atingida. "Depender apenas das receitas de borderô das partidas é muito complicado. Fica difícil cumprir os compromissos nos 12 meses do ano", acrescenta Luigi, destacando a importante receita proveniente das mensalidades. Com os 31,5 mil sócios em dia, o Inter arrecada R$ 800 mil mensais.
No passado, os anos corriam e o clube mantinha entre 6 e 7,5 mil sócios. O número de entradas e saídas era praticamente igual. Cerca de 300 a 400 torcedores se desligavam dos quadros sociais, outros entravam. As boas campanhas da equipe nas últimas temporadas mudaram esse panorama.
O débito em conta é comemorado por Giovanni Luigi com um ovo de Colombo. Uma das vantagens é que das 12 prestações ao ano, o torcedor paga 10. "Desburocratizamos os serviços e reduzimos os custos. Também eliminamos com a grande dúvida: ele vai ou não pagar. O débito assegura a fidelidade", elogia. Em março de 2005, eram 600 que utilizavam essa sistemática. Hoje são 18 mil.
"Notamos que neste sistema de pagamento dificilmente o torcedor abandona o clube, são raríssimos os casos. Tudo envolve paixão. Numa derrota, pensa em largar tudo. Nos primeiros dias ele fica triste, mas depois o time volta a ganhar e esquece", assegura.
Na avaliação de Luigi, o colorado é inteligente e tem percebido a atuação da diretoria em diversas áreas patrimoniais, com a implantação de novas tecnologias, a racionalização da gestão e o bom desempenho em campo, por isso tem colaborado. "Esses fatores também contribuem para o crescimento".
Viagem com a delegação é atrativo
A diretoria oferece benefícios para aproximar o torcedor do time e de seus ídolos. A cada partida a camiseta do melhor jogador em campo é sorteada por quem vai ao Beira-Rio. Também tem a visita ao estádio, reunindo de 15 a 20 torcedores, que encerram o tour com um bate-papo com o presidente.
Outra promoção beneficia quem mora longe de Porto Alegre. Luigi exemplifica se o Inter for ao Rio de Janeiro, a administração consulta no sistema os sócios residentes na capital carioca e faz um sorteio. O vencedor acompanha a delegação, desde a hospedagem até o estádio. "Isto é uma forma de valorizar quem está longe e continua contribuindo", informa Luigi.
Na Libertadores da América e na Sul-Americana do ano passado, torcedores também foram premiados para acompanhar os jogos fora do Brasil.
A última estratégia foi apresentada no dia 19 de junho. O clube fechou parceria com a Unimed, que concederá aos sócios (antigos e novos) descontos de até 30% nos planos de saúde. "É um momento histórico no futebol brasileiro, quando o Inter traz um grande benefício ao seu qualificado quadro social. Estimamos que esta parceria poderá aumentar em pelo menos 30% o crescente número de sócios e fidelizar cada vez mais aqueles que já estão conosco", comemora o presidente Fernando Carvalho.
Para Luigi, outro desafio é manter esse universo de colorados, contribuintes e exigentes, informados sobre o trabalho desenvolvido e de que cada um pode ajudar o clube a atingir a independência financeira. "A grande maioria está atenta. Lê nossos jornais e acompanha nossas ações. O site, por exemplo, recebe 20 mil acessos ao dia", revela. "Eles participam e enviam suas sugestões diariamente, por telefone ou e-mail".
Desde o ano passado o Beira-Rio passa por um processo de modernização. Entre as novidades, o Inter implantou um sistema de acesso ao estádio com um cartão magnético que consta todas as informações do sócio junto ao clube, com as partidas que assistiu durante o ano. "Eu posso verificar quantos estiveram em todos os jogos em Porto Alegre e oferecer uma camiseta oficial para cada um", explica Luigi.
Quando o sistema estiver em pleno funcionamento, as carteiras servirão como cartão de crédito e poderão ser utilizadas nas lojas, bares e estacionamento do estádio. "Além de ser sócio, tem que vir e ajudar o time. Todos têm que ter o comprometimento com o Inter", avalia.
Equipe busca os desistentes
Os planos disponíveis são o Sócio Colorado, com mensalidade mensal de R$ 30 e acesso a todas as partidas no Beira-Rio; o Parque Gigante, que libera o acesso os jogos e também a infra-estrutura de piscinas e lazer, com custo R$ 600 no ato e R$ 35 por mês.
Há também a locação de cadeiras, com um valor R$ 60 mensais. "Todas estão alugadas e estamos ampliando em mais 400, que serão colocadas à disposição em breve", revela Luigi, informando que a ampliação elevará a oferta para 2.600 lugares.
Há um ano foi criada uma equipe responsável pela busca dos sócios que deixaram de pagar as mensalidades. Todo mês um levantamento é feito e os grupos são motivados a conversar e tentar reconquistar essas pessoas.
"Antes não existia nada, parceria que o torcedor não tinha nenhum valor. Agora a gente liga, vai atrás e diz o quanto o clube precisa de cada um. Buscamos renegociar suas dívidas e facilitar o retorno. São incontáveis as pessoas que se mostram sensibilizadas e valorizadas com esse contato", ressalta.
Outro desafio do clube é garantir o pagamento em dia. Há uma preocupação enorme em conscientizar os sócios que, independentemente do resultado em campo, é preciso continuar ao lado do clube. Só assim, defendem os dirigentes, será possível armar um time de qualidade e uma receita significativa para tornar o clube praticamente auto-sustentável. "Se não formos campeões, pelo menos vamos estar competindo sempre com chances de vencer", já disse o vice-presidente de futebol, Vitório Píffero.
Luigi, pelo trabalho na administração, assim como Píffero, no futebol, já são apontados como candidatos à sucessão de Fernando Carvalho. Ambos reconhecem que os bons desempenhos na Libertadores e no Brasileirão estão motivando o crescimento constante do quadro social. Hoje são poucos os que deixam o clube. "Conseguimos segurar a antiga perda de sócios e ampliar o crescimento dos novos. A presença em campo se torna motivadora", acrescenta Giovanni Luigi.
Há 18 anos conselheiro do clube, ele diz que o mais importante é manter o atual modelo de gestão, seja quem for o presidente do Inter a partir de 2007 e que conduzirá o Inter nos festejos de seu centenário, em 2009. "As pesquisas apontam o meu nome. Fico orgulhoso, mas credito o mérito ao presidente, que colocou várias pessoas capacitadas para trabalhar ao seu lado".
Torcida aprova sucesso, mas quer títulos
O torcedor colorado reconhece as melhorias nas acomodações e instalações do estádio Beira-Rio. Mas como sócios, desejam um clube forte para brigar por títulos e que não vacile em momentos decisivos, como ocorreu, por exemplo, na final do Gauchão deste ano, quando apesar de grande favorito, perdeu a competição para o Grêmio.
Sucesso do time em campo é fundamental para manter colorados fiéis e em dia
O enfermeiro Rodrigo Sulzbach, 27 anos, é sócio contribuinte desde 2003 e acompanha a maioria das partidas do clube, quando consegue acertar seus plantões com os jogos. Para ele, a comodidade no acesso às dependências do estádio, a liberdade de se deslocar por qualquer local e entrar sem enfrentar filas são ótimas vantagens. "Mas o principal motivo de ser sócio é poder ajudar o time, pois acredito se cada um fizer a sua parte, está contribuindo para o Inter ser maior do que ele já é", revela.
Para Rodrigo, o time deve ter condições de chegar às decisões e conquistar os títulos que o torcedor tanto deseja. "Tem que ter um time preparado para vencer, pois estamos cansados de ver a equipe nadar e morrer na praia", comenta.
Fervoroso colorado desde pequeno, quando acompanhava o pai ao Beira-Rio, Luiz Antônio Silva da Rosa, 36 anos, adquiriu seu título em 1992. "Fui um dos primeiros a tomar banho nas piscinas do Parque Gigante", informa.
Ele reconhece o trabalho da atual diretoria, mas destaca que ainda faltam as faixas de campeão. Desde a contratação do técnico Carlos Alberto Parreira, no seu entendimento, o Inter deu um salto qualitativo e começou a disputar as competições em condições de ganhar.
"Antigamente o sócio tinha apenas um espaço dentro do estádio, hoje eu posso ir por todas as instalações e os acessos estão mais organizados", avalia.
Na sua observação, a Libertadores da América é que está proporcionando esse crescimento no quadro social do clube. "A motivação é essa. A estrutura é excepcional e está sendo melhorada e qualificada, não tem mais o que dizer", assegura.
"O clube precisa de títulos e aposto que este seja o grande ano do Internacional. Queremos uma Libertadores e mais um Brasileiro", completa Luiz Antônio, que é presença certa nos jogos do Beira Rio quando consegue coincidir a folga com o trabalho de vigilante no Aeroporto Salgado Filho.
Barcelona, o exemplo, tem 140 mil sócios
Enquanto o Inter se esforça e cresce de forma surpreendente, o clube modelo, o Barcelona, chegou ao final da temporada 2005-2006 alcançando marcas históricas. Além de ter conquistado o título da Liga e sua segunda Copa da Europa, superou o número de 140.000 sócios e se tornou o clube de futebol com mais número de associados no mundo, afirmou o clube em sua página na Internet.
A matéria revelou que houve processo de rejuvenescimento pois 31% dos novos sócios são menores de 15 anos, entre eles cerca de 3 mil recém-nascidos inscritos praticamente no mesmo dia em que nasceram. E enquanto no Beira-Rio, em Porto Alegre, há vibração pelo fato de que estão ocorrendo 250 novas adesões por semana, no Barcelona a média diária é de 125 por dia. Diz o site do poderoso clube europeu que são "68% da Catalunha, 20% do restante do país e 12% do exterior".
México e El Salvador são citados como países que garantem muitos sócios internacionais para o Barcelona, mas o maior número está no Japão. A grande maioria desses novos sócia entra para o clube por meio do site oficial do clube http://www.fcbarcelona.com/.